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Papo de Domingo

Papo de Domingo: 'Aluno precisa aprender a estudar'

Na última semana, o Diário do Litoral anunciou mais de 2.800 vagas em concursos, com salários de até R$ 22 mil. Todos querem ver seu nome na lista de aprovados. Mas será que qualquer um tem a chance de passar?

Caroline Souza

Publicado em 08/07/2018 às 11:31

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Victor Maia foi aprovado como agente da Polícia Federal em 2009. / Divulgação

Estabilidade e alta remuneração. Estes costumam ser os motivos que mais chamam a atenção de quem sonha em passar em um concurso público. Na última semana, o Diário do Litoral anunciou mais de 2.800 vagas em concursos, com salários de até R$ 22 mil. Todos querem ver seu nome na lista de aprovados. Mas será que qualquer um tem a chance de passar?

Para o especialista em concursos públicos Victor Maia, o aluno precisa aprender a estudar. Formado em Engenharia Civil pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), mestre em Estatística e doutor em Economia, Maia foi aprovado como agente da Polícia Federal em 2009. Quatro anos depois, em 2013, foi novamente aprovado. Desta vez, para perito da Polícia Civil. 

Com base em sua experiência, desenvolveu o método de estudo aplicado por sua startup de educação. A plataforma utiliza inteligência artificial e metodologia autodidata. Esta foi a forma que Maia encontrou para ajudar concurseiros a estudarem. “A disciplina traz muito mais resultado que a ‘genialidade’”, declara.

A reportagem do Diário do Litoral conversou com o especialista sobre o cenário atual de concursos e os principais desafios de quem almeja uma carreira pública. Confira a entrevista:

Diário do Litoral (DL) - Como está o atual cenário de concursos públicos no País? 
Victor Maia - Certamente não haverá mais tantos concursos como no período entre 2003 e 2012, pois a situação fiscal do país não permite. Por outro lado, diversas carreiras de estado (Banco Central, Receita Federal, etc.) possuem um quadro muito envelhecido. Com a iminência de reformas na previdência, há um movimento de busca pela aposentadoria. Assim, nos próximos anos, a perspectiva é que haja muitos certames grandes, como o da Advocacia Geral da União. 

DL - Quais as maiores dificuldades que os concursandos enfrentam para passar?
Victor - O aluno sente muita dificuldade em aprender porque não se planeja, ou se planeja errado. Ele acredita que é o ‘professor’ que trará os resultados para ele. Quando ele não consegue, troca de professor, mas os resultados são os mesmos. Ele acredita que o problema é que ele ainda não achou o material ‘ideal’. Depois ele começa a achar que só ‘gênios’ são aprovados, mas isso também não é verdade. O conhecimento cobrado em concurso é ‘enciclopédico’. Um ‘mar de conhecimento com um palmo de profundidade’. A disciplina traz muito mais resultado que a ‘genialidade’ ou capacidade analítica.

DL - Existe uma ‘fórmula de sucesso’ para passar em concursos?
Victor - Passar é simples, mas não é fácil. Não gosto da palavra fórmula justamente porque remete a uma ‘bala de prata’ externa que resolverá o problema, e o problema da educação se resolve internamente. O aluno é o protagonista da sua própria aprovação. Entender isso é fundamental.

Muita gente cria planos de estudos que só funcionam no papel. A preparação ideal precisa ser persistente e exequível. São três as condições para que isso aconteça: Você precisa saber onde está e para onde vai; Saber se está no caminho certo a todo o momento; Ter metas de estudo adaptadas ao seu conhecimento e a sua ­disponibilidade.

O primeiro passo é se avaliar em todas as disciplinas. Como dito, você precisa saber onde está para saber se está no caminho certo, ao longo da preparação.

O segundo passo é escolher para qual cargo fazer. Eu recomendo fazer aquele que você tem mais chance. Essa condição é personalíssima. Depende muito das suas proficiências nas diferentes disciplinas. Muita gente acredita, erroneamente, que a dificuldade de passar é ditada pela remuneração e o número de vagas.

 O terceiro passo é analisar a própria rotina e conseguir um tempo adequado para se preparar. A boa notícia é que você não precisa se matar de estudar! Estatisticamente, a carga com maior aprendizado semanal é em torno de 36h líquidas (efetivas; descontadas as pausas). Quem estuda mais que isso está desperdiçando energia à toa (em regra). Também é mais eficiente quem descansa um dia na semana.

O quarto passo é criar um ciclo de estudos. O aprendizado é muito mais efetivo quando as disciplinas são intercaladas. Você deve ponderar três fatores na hora de dividir o tempo entre as disciplinas, estudando mais: quanto maior o peso no edital; quanto menor o seu conhecimento; quanto mais fácil a disciplina.
Só o último passo é o estudo em si. A forma como você estuda é bem mais importante que a fonte. O processo como um todo também é cíclico. Após estudar, você deve se reavaliar com frequência (1x por mês pré-edital e 2x pós-edital são suficientes).

DL - É necessário fazer cursos ­preparatórios?
Victor - De forma alguma. O aluno precisa aprender a estudar. O tempo perdido em sala de aula seria bem melhor aproveitado estudando de forma solitária, e nem estou entrando do mérito dos custos ou do tempo de deslocamento. O estudo teórico é bem menos eficiente por si que o prático (37% melhor) ou de revisão (45% melhor). Dentre os estudos teóricos, a leitura é 25% mais eficiente que a aula presencial.

DL - Como conciliar trabalho e estudo?
Victor - Você precisa de um plano de estudos que se adapte a sua realidade e ter bastante disciplina, que fica fácil uma vez que você tem o hábito de estudar. A constância é bem mais importante que o volume. 
É inclusive comum que quem trabalhe estude melhor que quem apenas estuda, porque - via de regra - a dedicação exclusiva traz muita ansiedade, e isso é extremamente prejudicial para o aprendizado.

Também quem só estuda tende a procrastinar mais, porque tem ‘mais tempo’, deixa o estudo para depois. 
Outro dado interessante é que não adianta se matar de estudar. Empiricamente, a gente observa que mais de 6h diárias ou 36h semanais de estudo não se convertem em mais aprendizado. Avalio que isso se dá pela queda natural na qualidade do estudo. Da mesma forma, quem estuda 7 dias por semana não aprende mais que quem estuda 6. O candidato não é muito diferente de um atleta. O descanso, assim como alimentação e sono equilibrados, é fundamental.

DL - É melhor prestar vários concursos ou focar em apenas um?
Victor - Estudar para vários concursos é um dos erros mais graves que os alunos cometem. Chamo esses os ‘patos dos concursos’. 

O ideal é escolher uma área, aprender as disciplinas basilares dessa área, aumentando gradativamente o escopo ao longo do ­tempo.

DL - Como escolher o melhor concurso para prestar?
Victor - Nós orientamos o nosso aluno a subverter totalmente a lógica de ‘escolher o concurso’. O aluno não deve escolher o concurso que ele quer, ele deve escolher o que não quer.

Quando tira a cabeça dos editais, pode se focar no que efetivamente vai ajudá-lo a ser aprovado, que é aprender as disciplinas.

Com isso, suas chances de aprovação vão se tornando a cada dia mais reais. Então, quando há um novo edital e esse candidato tem condições de ser aprovado, então deve se focar nas peculiaridades e novidades do certame.

O candidato deve fazer o concurso que tem mais chance de ser aprovado. Esse caminho ‘indireto’ é o mais rápido para ser aprovado!

DL - Existe um perfil das pessoas que mais tem sucesso em ­concursos?
Victor - Eu observo hoje como mais de quatro mil alunos estudam. São dois os fatores que trazem resultados mais rapidamente. O primeiro, como já comentei, é o senso de responsabilidade própria. O aluno que sabe ser o protagonista do seu aprendizado aprende muito mais rápido, porque estuda de forma ativa (em oposição a forma passiva, assistir aula, por exemplo). O segundo é a disciplina: aquele que se compromete com metas tangíveis e diárias. Esse aluno estuda em maior quantidade e com mais qualidade e fatalmente é aprovado em tempo ­menor.

DL - Aprovado dentro da quantidade de vagas tem garantia de tomar posse?
Victor - Sim, esse entendimento é pacífico na jurisprudência tanto do Superior Tribunal de Justiça quanto do Superior Tribunal Federal: o aprovado em concurso público dentro do número de vagas previsto no edital tem direito líquido e certo à nomeação. Já para o candidato aprovado, mas classificado fora do número de vagas divulgado no edital, existe apenas a expectativa de direito à nomeação. O mesmo acontece se o edital era para formação de cadastro de reserva.

DL - Gostaria de acrescentar mais alguma dica?
Victor - Além de fazer uma base antes do edital, de assumir o protagonismo sobre o próprio aprendizado, é fundamental que o aluno saiba como e quando revisar. A maioria nem revisa, e a quase totalidade dos que o fazem, fazem de forma errada, burocrática ou com releitura. 

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