Papo de Domingo: Educação Inclusiva é tema de debate em Santos

I Simpósio de Educação Especial foi direcionado a professores do ensino básico público de Santos e região, além de estudantes de Pedagogia e interessados

17 DEZ 2017 • POR • 10h30
O número de alunos com deficiência em escolas comuns cresceu seis vezes em quase dez anos - Divulgação

De acordo com um levantamento do Inep/MEC, o número de alunos com deficiência em escolas comuns cresceu seis vezes em quase dez anos: de 2007 para 2016, foi um acréscimo de 114.834 para 750.983 estudantes.

Considerando a importância desse público e a necessidade de políticas públicas direcionadas, a Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) promoveu no início deste mês o I Simpósio de Educação Especial, com a abordagem ao tema “A Dialética Exclusão/Inclusão – Reflexões sobre uma mudança de paradigma na Educação”.

O evento foi direcionado a professores do ensino básico público de Santos e região, além de estudantes de Pedagogia e interessados no tema, incluindo as famílias de jovens com deficiência.

Em entrevista ao Papo de Domingo, a psicóloga e coordenadora da licenciatura de Educação Especial da Unimes, Me. Marisa Catta-Preta fala sobre os desafios da modalidade e salienta que a inclusão de pessoas com deficiência vai além do acesso à escola.

“Existem particularidades relacionadas a esses alunos que, muitas vezes, o professor desconhece ou, às vezes, é difícil de aplicar. Portanto, o profissional de ensino precisa se apropriar de todo um conhecimento sobre as deficiências apresentadas e poder aplicar a melhor metodologia possível dentro de um espaço comum, com outros jovens”, cita.

DL - É preciso que o professor, para trabalhar com na área de educação especial, tenha algum diferencial?

Marisa - Sim, o professor deve ter especificidades. No nosso curso temos disciplinas específicas para que o professor possa compreender melhor os transtornos e síndromes. Sobretudo, tratamos de uma prática inclusiva que se reflete numa mudança de paradigma na Educação. Ou seja, numa nova forma de pensar que se reflete no mundo a partir de várias declarações, especificamente a declaração de Salamanca que marca o mundo no processo de inclusão social.

DL - Como é a preparação dos professores e das escolas para lidar com pessoas com deficiência e oferecer a estrutura adequada?

Marisa - Atualmente, as escolas têm buscado capacitação para os professores e os próprios educadores estão indo atrás de informações para que possam estar mais preparados. A situação é difícil e por isso surgiu a necessidade de lançarmos esse curso na Baixada Santista, pois o mesmo era uma necessidade para o professor que busca não só informações como formação. Precisamos entender o que são os transtornos e as síndromes para que possamos estar metodologicamente mais preparados. É preciso também trabalhar os valores dos educadores, sairmos da zona do preconceito formado por um mundo do que julgamos “normais” e “diferentes”. A busca pé de uma educação de fato para todos. Mas, é necessário que além da integração dos alunos esse permaneça e aprenda na escola, por isso a importância da qualificação do professor e de sua capacitação na busca de novos recursos mais criativos para lidar com essa nova situação.

DL - Você é defensora da inclusão em todos os casos de pessoas com deficiência ou há exceções?

Marisa - Acredito que a inclusão é um processo irreversível, porém deve ser feita com certo cuidado e a transição deve ter um acompanhamento e uma mediação adequados.

DL - Qual a sua opinião em relação aos níveis de inclusão oferecidos hoje nas escolas da Baixada Santista?

Marisa - Ainda temos muito que aprender, há necessidade enorme de formação de professores com novas capacitações, maior investimento do governo em medidas e projetos que apoiem esse processo na educação. Mas, principalmente, precisamos mudar a mentalidade das pessoas sobre a questão da criança e adolescente deficientes. Temos que ter um mundo preparado para eles e não deixa-los à margem da vida. Na Baixada temos muitos movimentos de educadores e de pais de crianças deficientes.

DL - Qual a sua opinião sobre a nova Lei do Autismo? (A Lei estabelece que autistas tenham os mesmos direitos de pessoas com outras deficiências).

Marisa - Acho muito importante. No simpósio que fizemos o Dr. Salomão Schwartzman falou uma coisa muito importante. Cada criança é um caso de autismo, não existe um autista, são vários. Cada indivíduo terá suas características e formas de atuar, não podemos generalizar. Temos que incluir todos, pois eles têm direitos e os mesmos devem ser respeitados na sua individualidade.

DL - Em uma escola regular, como é a relação de convivência entre as pessoas com deficiência com o restante da sala? E qual a importância dessa convivência para os alunos sem nenhum tipo de deficiência?

Marisa - Em cada lugar a inclusão está sendo feita de uma forma. Acho importante pensarmos que ainda estamos construindo todo esse processo. Porém, a relação ainda parece não ser fácil, segundo relatos de professores, pois muitas vezes há preconceito e bullying por parte de alunos, professores e equipe escolar. Mas, em outras situações isso já está mais fácil e há um esforço dos colegas, professores e equipe pedagógica em ajudar e com certeza todos crescem muito com a inclusão. Não é só o aluno que tem deficiência que aprende, mas todos que estão envolvidos nesse processo. A inclusão não se resume a ensinar o aluno, mas aprender com ele, em todos os aspectos. A escola é um direito de todos.