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‘Não foi nada de injusto, foi incompetência’, afirma Chulapa sobre Copa de 1982

Ex-jogador comenta a eliminação para a Itália, há 35 anos, e critica postura ofensiva do Brasil enquanto jogo estava empatado

Publicado em 08/07/2017 às 10:30

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O Diário do Litoral conversou com Serginho Chulapa sobre a Copa do Mundo de 1982 / Rodrigo Montaldi/DL

Dia 5 de julho de 1982, segunda-feira, estádio Sarriá, em Barcelona, na Espanha. Com três gols de Paolo Rossi, a Itália vencia o Brasil por 3 a 2, na Copa do Mundo, e eliminava aquela que está colocada no rol de maiores seleções brasileiras da história. Uma seleção de craques como Zico, Falcão, Sócrates, Júnior...mas que não conquistou nada.

Trinta e cinco anos após a derrota naquela partida que ficou conhecida como a “Tragédia do Sarriá”, o Diário do Litoral foi ouvir camisa 9 daquele time, Serginho Chulapa.

Serginho comenta sobre o duelo contra os europeus, fala sobre o ambiente que cercava a seleção e critica a postura adotada pelo técnico Telê Santana, que optou por manter uma equipe ofensiva apesar do empate em 2 a 2, resultado que garantia o Brasil na próxima fase do Mundial. Confira:

Diário do Litoral - Foi injusto uma seleção como aquela não ter conquistado uma Copa do Mundo?

Serginho Chulapa – Não, foi normal. A seleção da Itália também era uma grande seleção. Mas também é isso, se você não respeitar... a Itália vinha de três empates, se classificou com três empates. Nós demos mole, infelizmente saímos daquela partida derrotados. Se levasse um pouquinho a sério, a verdade é que não levamos, pensaram que iam ganhar a qualquer momento, entendeu? Não foi nada de injusto, foi incompetência nossa.

Diário - Na Copa de 82 você não foi o Serginho que o Brasil estava acostumado a ver. Você decidiu se policiar, foi um pedido do próprio Telê Santana? O que aconteceu para o Serginho da Seleção ser o Serginho do São Paulo?

Chulapa – Eu tenho culpa nisso também. Mas os caras me apertavam para não arrumar confusão. Você imagina se eu vou expulso e o time perde? Complica, né. Então, peguei um time técnico. A minha seleção, realmente, era a de 78, na Argentina. Foi uma seleção de choque, de jogo duro, contato. Esse não. Mas eu estava lá, melhor do que centroavante que tinha aqui. Estava numa fase muito boa no São Paulo. Mas eu também tenho uma parcela de culpa. Teve o aperto, os caras falavam para tomar cuidado e não arrumar confusão. Me encheram tanto o saco, sabe? Mas se fosse campeão daquele jeito tava bom também. Tinha tudo para ser.

Diário - O Waldir Perez chegou a comentar que você não se dava com o Edinho, então zagueiro do Fluminense. Qual foi o problema existente entre vocês?

Chulapa – Ele falou que eu e o Éder fazia gol e ia para a placa*, não sei de onde ele tirou isso. Mas depois eu me encontrei com ele e conversei. Ele foi mau caráter, falei na cara dele depois. Foi por causa disso aí, só.
*Edinho chegou a falar que Serginho e Éder recebiam mil dólares cada para comemorar gols perto de uma determinada placa de publicidade.
 
Diário - Havia mais algum problema de ambiente naquela seleção?

Chulapa – Tinha, sim. Principalmente os cariocas. Era difícil lidar. Eles queriam lugar. Não estava fechado (o grupo), essa é a verdade. E torceram contra.

Diário - Houve um intervalo de nove dias entre o último jogo brasileiro na 1ª fase e a estreia na 2ª fase. A rotina de treinos e concentração abalou alguns jogadores?

Chulapa – Atrapalhou nada. No jogo contra a Itália foram só falhas individuais. O time deles era tão bom quanto o nosso. Não é à toa que foram campeões, né? Então, não tem nada disso, não. Isso é conversa.

Chulapa atuou na partida que ficou conhecida como a 'Tragédia do Sarriá' (Foto: Rodrigo Montaldi/DL)

Diário - Tem uma reportagem de TV que mostra os jogadores sendo repórter e câmera. E o Eder fala que não conseguia dormir porque tinha um monstro roncando do lado. E alguém joga um balde d’água em ti para te acordar. Aquilo era combinado? Como era essa relação com o Éder?

Chulapa – Aquilo era combinado. Um sarro para mudar um pouco a rotina. O relacionamento é bom até hoje, ele é um grande amigo. Tinha uns cara legal lá na Seleção. Uns três ou quatro não prestavam. Mas o resto era gente boa.

Diário - Na partida contra a Itália se falou muito daquela bola no primeiro tempo, que você chuta para fora, mas que o Zico também estava nela. Chegou a ouvir muito do Zico por causa daquele chute?

Chulapa – Ele falou que podia deixar para ele. Mas não foi aquela reclamação. Se eu tivesse ouvido, ele ia ouvir também. Não é porque é o Zico que eu ia abaixar a cabeça. Eu que fiz a jogada, lógico que poderia deixar ele chutar, mas eu antecipei e chutei para fora.

Diário – Um bola na frente do gol para um camisa 9 tem que chutar...

Chulapa – Tem que chutar. Eu chutei e se ele não gostou, dane-se (risos).

Diário - No segundo tempo você é substituído pelo Paulo Isidoro. Se você estivesse no lugar do Telê, tomaria aquela atitude de continuar pressionando, sendo que o empate classificaria o Brasil?

Chulapa – O Brasil precisava do empate. Aí que entra a situação que estávamos dando espetáculo, e espetáculo às vezes é bom, mas em 94 jogou feio e foi campeão mundial. Só espetáculo... não foi legal. Todo mundo ali podia parar, pensar que o empate era nosso, fechar direitinho. Mas o Telê queria jogar para frente, jogamos e acabamos perdendo. Podíamos estar jogando até hoje que eles iam estar na frente ainda.

Diário – O Toninho Cerezo acabou dando aquele passe entre o Luisinho, Falcão e Júnior. O Paolo Rossi adiantou e fez o gol. Ele acabou ficando como o vilão. Foi uma injustiça ou mais um desses erros individuais que ocorrem?

Chulapa – Erro individual. Se você errar contra um time bom, fatalmente você vai se ferrar. O time estava saindo, o Cerezo jogou a bola para trás e o Paolo Rossi... ele ganhou três gols. O terceiro gol sobrou para ele, o Júnior acabou dando condição. Normalmente sai todo mundo, mas ficou dando condição. Mas é o que eu falo. O empate era nosso, servia também. Mas, não, fomos para frente. Mas o castigo veio a cavalo.

Diário - Ainda sobre o Waldir Perez, ele comentou que se o Batista jogasse, o Brasil teria passado pela Itália. Você concorda?

Chulapa – Um volante, é verdade. Eu acho. Não tinha nenhum volante. O Cerezo era segundo volante. O Sócrates não marcava ninguém. O Zico, o Falcão...era um time para frente. Saímos também por causa disso. Não tinha um marcador fixo.

Diário – Podemos falar também, então, que tem um pouco de culpa do Maradona nisso, que machucou o Batista...

Chulapa – É verdade. O Batista estava machucado. Tivemos que jogar daquele jeito e deu no que deu. Voltamos mais cedo. Mas não tem que lamentar nada, não. O que foi feito, foi feito. E perdeu... uma boa seleção. Pena é Sócrates, Zico, Cerezo e Falcão não terem sidos campeões mundiais. Uma geração perdedora.

Diário – Vestiário e pós-jogo, teve alguma conversa, como foi o ambiente?

Chulapa – Não teve conversa, só no hotel. Eu não tive conversa com ninguém. Fui tomar cerveja e acabou. Perdeu, perdeu meu. Não tem essa de parar o País. Que parou o País nada. Ia parar o País se fossemos campeões. Não tem nada disso, não. Não era para ganhar, não era. Acho que serviu como lição. Jogar feio também vale a pena.

Diário - Numa escala de seleções brasileiras em Copa, você colocaria a de 82 em que posição?

Chulapa – Nós não ganhamos nada. Individualmente, sensacional. Mas coletivamente, não. Não ganhou. Não posso classificar essa seleção. Tem que classificar as cinco que ganharam. Foi boa? Foi. Tinha grandes nomes. Mas ganhou o que? Não ganhou nada. Não tem que classificar. Tem que classificar a de 94 que entre trancos e barrancos foi campeã mundial.

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