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Mar de sangue? Entenda o fenômeno de potencial tóxico que assusta o litoral de SP

Popularmente conhecida como maré vermelha, a ocorrência chamou atenção porque esse tipo de microalga não é habitual na costa paulista

Agência Diário

Publicado em 15/08/2025 às 13:50

Atualizado em 15/08/2025 às 14:08

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Maré vermelha é um fenômeno causado por algas marinhas que podem mudar a coloração da água / Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

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Pesquisadores do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP identificaram, no fim deste verão, uma floração de microalgas do gênero Margalefidinium no Canal de São Sebastião.

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Popularmente conhecida como maré vermelha, a ocorrência chamou atenção porque esse tipo de microalga não é habitual na costa de São Paulo e, além disso, pode ser tóxico para peixes e outros organismos marinhos.

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O fenômeno foi observado nas praias de Guaecá e do Segredo, em São Sebastião, nos dias 13 e 14 de março, mas o pico de concentração aconteceu no dia 14, quando foram contabilizados até 2 milhões de organismos por litro de água.

Áurea Ciotti, do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar), conta ao Jornal da USP que essa é uma espécie pouco registrada.

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"Aqui [em São Paulo], eu nunca tinha encontrado. Liguei para vários colegas para saber se já tinham visto e ninguém conhecia. Isso não significa que não existia, mas que não havia sido detectada. Não é frequente por aqui", disse.

A Maré Vermelha chamou atenção porque esse tipo de microalga não é habitual na costa de São Paulo / Fotos: Divulgação e Nair Bueno/DL
A Maré Vermelha chamou atenção porque esse tipo de microalga não é habitual na costa de São Paulo / Fotos: Divulgação e Nair Bueno/DL
O fenômeno pode ser tóxico para peixes e outros organismos marinhos
O fenômeno pode ser tóxico para peixes e outros organismos marinhos
O fenômeno foi observado nas praias de Guaecá e do Segredo, em São Sebastião, nos dias 13 e 14 de março / Foto: Nair Bueno/DL
O fenômeno foi observado nas praias de Guaecá e do Segredo, em São Sebastião, nos dias 13 e 14 de março / Foto: Nair Bueno/DL
Lembrando que esse gênero de microalgas foi descrito pela primeira vez na Ásia
Lembrando que esse gênero de microalgas foi descrito pela primeira vez na Ásia

Lembrando que esse gênero de microalgas foi descrito pela primeira vez na Ásia. Para identificá-lo, a docente contou com apoio de pesquisadoras de outros Estados.

Especialista em ecologia do fitoplâncton — grupo ao qual pertencem as microalgas — e em oceanografia bio-óptica, Ciotti explica que a maré vermelha é um dos fatores capazes de modificar a cor do mar.

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Apesar de invisíveis a olho nu, esses microrganismos, quando presentes em grande quantidade, formam manchas coloridas — geralmente avermelhadas — na superfície.

No caso dos dinoflagelados, grupo que inclui as microalgas registradas em março, a densidade normal no Canal de São Sebastião costuma ser de apenas algumas centenas de organismos por litro.

As florações surgem quando as condições de temperatura e nutrientes favorecem a multiplicação de certas espécies.

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Segundo Ciotti, ainda não é possível determinar a origem dessas microalgas incomuns no litoral paulista. As manchas coloridas se deslocam com as correntes marítimas e, conforme a Cetesb, há registros de florações que chegam a São Paulo vindas do Paraná, Santa Catarina ou até do Uruguai.

Chuvas intensas e esgoto podem ter influenciado

Os pesquisadores do Cebimar levantam a hipótese de que as fortes chuvas de março tenham estimulado o aumento dos microrganismos, já que a salinidade registrada no Canal de São Sebastião estava abaixo do normal. Vale lembrar que o litoral de São Paulo entrou em estado de alerta.

As precipitações aumentam o volume dos rios e córregos que desembocam no mar e arrastam nutrientes do solo, funcionando como um fertilizante natural para essas algas microscópicas. Durante as coletas de 13 e 14 de março, a temperatura da água chegou a 29 °C. O caso foi comunicado à Cetesb.

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Ciotti lembra que diversos fatores podem contribuir para florações de fitoplâncton, como mudanças climáticas ou a entrada de espécies via água de lastro de navios. No entanto, ela destaca a relação com a ocupação humana.

“Em muitos ambientes costeiros com histórico de maré vermelha, há um vínculo forte com o uso e ocupação do solo. Construções e erosão acabam levando mais nutrientes para o mar”, afirma, mencionando também a coleta insuficiente de esgoto.

Segundo a PNAD Contínua 2017, 88,9% dos domicílios do Sudeste tinham ligação à rede geral, mas esse índice varia por município. Dados do Censo 2010 indicavam que, em São Sebastião, 82,1% das casas tinham coleta adequada, enquanto na vizinha Ilhabela o índice era de apenas 36%.

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Quando há aumento repentino de nutrientes, explica a docente, o equilíbrio mantido por milhões de anos se rompe e as microalgas se multiplicam rapidamente. “Elas são unicelulares e basta um pouco mais de nitrogênio para se dividirem”, detalha.

Ela é coautora de um artigo publicado no site do Cebimar sobre a importância do monitoramento dessas florações.

No verão anterior, entre dezembro de 2018 e março de 2019, a Cetesb investigou sete relatos de manchas avermelhadas ou acastanhadas no litoral paulista, nem todas relacionadas a microalgas.

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