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De base para expedições a cenário de lendas, Ilhabela carrega marcas da era pirata. Era lá que eles planejavam as próximas investidas e comemoravam as vitórias
rquipélago paulista já foi ponto estratégico para saques, batalhas e lendas de tesouro enterrado / Foto: Reprodução/Wikimedia Commons
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Localizada no litoral norte de São Paulo, Ilhabela esconde mais do que praias paradisíacas: o arquipélago já foi adotado por piratas como base para saques e ataques na região. Era ali que eles planejavam as próximas investidas e comemoravam as vitórias, com a participação do rum – bebida obrigatória em ambas as situações.
O mito popular afirma que o navio pirata de Thomas Cavendish deixou um grande tesouro escondido na ilha, o que alimenta a imaginação e memória de muitos caiçaras.
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Nascido em 1560, em Trimley St. Martin, na Inglaterra, Thomas Cavendish até iniciou seus estudos em Cambridge, mas abandonou os estudos aos 17 anos, quando já administrava as terras herdadas dos pais. Ingressou facilmente no círculo social da corte real de Elizabeth I, graças à irmã Anna, que era dama de companhia da rainha.
A veia aventureira fez com que se interessasse pela navegação e, mais que isso, quisesse repetir o feito de grandes nomes.
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Sua primeira façanha foi enfrentar os mares numa ambiciosa navegação ao redor do globo, imitando as conquistas do corsário Francis Drake, que era tido como herói nacional por suas navegações e assaltos contra colônias espanholas do Pacífico, bem como os navios do rei Felipe II.
Vale lembrar que, curiosamente, a cidade no Litoral Norte foi eleita uma das mais românticas do mundo.
No livro "O Corsário de Ilhabela" (2008, Editora Ottoni), que traz os manuscritos traduzidos dos últimos dias de vida de Cavendish, o autor Paulo Edson conta que a primeira parada do pirata inglês no litoral de São Paulo aconteceu em novembro de 1586.
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Sua esquadra havia deixado as águas inglesas quatro meses antes, visando navegar os mares de todo o mundo.
Paulo explica em seu livro que a costa brasileira era ponto estratégico para corsários e navegantes ingleses que tentavam alcançar o Mar do Sul (Oceano Pacífico), fechado a estrangeiros pelos espanhóis.
No Brasil, os aventureiros encontrariam víveres para o reabastecimento, além de terem a oportunidade de interceptar navios carregados de bens e mercadorias com destino à metrópole.
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Na Ilha de São Sebastião (onde estão localizados a sede municipal e o centro histórico de Ilhabela), Cavendish e a tripulação atracaram e permaneceram por um mês, antes de cruzarem o Estreito de Magalhães, no extremo sul do Chile.
Um ano depois, atingiram a almejada costa do Pacífico na Califórnia e, de lá, seguiram saqueando vilarejos e portos em ilhas asiáticas, retornando à Inglaterra em 1588, depois de contornarem o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul.
Cavendish voltou rico à sua terra natal e ficou conhecido como o terceiro homem a navegar ao redor do mundo — Fernão de Magalhães foi o primeiro, entre 1519 e 1522; e Francis Drake, o segundo, viajando entre 1577 e 1580.
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Confira também um vídeo produzido pelo canal Apaixonado por História sobre o pirata e seis lugares secretos em Ilhabela.
Em 1591, Thomas Cavendish partiu de Plymouth com cinco navios e cerca de 350 homens, chegando em dezembro ao canal de São Sebastião. Usando a baía de Castelhanos — especialmente o Saco do Sombrio — como base escondida, ele planejou o ataque a Santos, então próspera pelo cultivo de cana e produção de açúcar.
Com cem homens e três navios, invadiu o povoado, sendo depois reforçado por mais duas naus. Durante dois meses, sua tropa ergueu fortificações, saqueou riquezas, incendiou plantações e celebrou com festas nas praias da região.
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Anthony Knivet, também inglês, que era membro das expedições de Thomas Cavendish conta que ao retornarem para Ilhabela, o pirata teria enterrado um tesouro lendário nas areias da praia de Castelhanos. Tesouro esse que havia sido roubado durante o saque feito em São Vicente, pelo menos é o que conta o livro "Ilhabela Seus Enigmas”.
Há versões divergentes sobre o fim de Thomas Cavendish após a expedição de 1591. Uma diz que ele foi enforcado após um motim de sobreviventes do escorbuto, que decidiram não voltar ao Reino Unido e se estabeleceram na Baía de Castelhanos.
Outra afirma que ele morreu no mar, emocionalmente abatido por desgastes na liderança, emboscadas de portugueses e indígenas, falta de provisões e violentas tempestades, sem jamais alcançar seu destino final, a ilha de Santa Helena, na costa africana.
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