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Cultura

Onde a água do Itororó entornou

Justificativas dos jurados apontam samba-enredo de criatividade pobre e enredo confuso da Grande Rio

Publicado em 02/03/2016 às 10:50

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Desfile homenageou a cidade de Santos e o Santos Futebol Clube / Divulgação

Samba-enredo empobrecido criativamente, enredo com uso excessivo do futebol, fantasias poluídas e problemas em acabamentos de carros alegóricos. Esses foram alguns pontos citados pelos jurados para justificar as notas dadas à escola de samba Acadêmicos do Grande Rio no Carnaval deste ano. 

Com o enredo “Fui no Itororó beber água não achei, mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei”, a agremiação de Duque de Caxias homenageou a cidade de Santos e terminou em 7º lugar na classificação geral, a pior em 12 anos.

Na última segunda-feira, três semanas após o Carnaval, a Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro (LIESA) divulgou o mapa com as justificativas dos julgadores do Grupo Especial.

O Diário do Litoral fez o levantamento das justificativas dos jurados que acabaram tirando pontos da Grande Rio. Vamos às notas:

Samba-enredo

No primeiro quesito em julgamento, sem considerar o descarte, a escola recebeu duas notas 10, 9.9 e 9.7. Clayton Fábio Oliveira aplicou o 9.9, pois encontrou, em um determinado trecho, “uma ligadura na melodia de tom maior para menor que não soa natural”.

Mais crítico, Alfredo Del-Penho deu 9.7 e foi taxativo. “O samba tem uma estrutura quase em sua totalidade formada por versos de melodias simples e pouco originais”. Segundo ele, a forma como o samba foi estruturado faz com que o samba se torne “animado e cantável, mas empobrecido na criatividade”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Enredo

Maior vilão da agremiação no desfile, o enredo foi alvo de críticas por parte dos quatro julgadores do quesito. Sem considerar o descarte, a Grande Rio levou: 9.9; 9.8; 9.9 e 9.7. 

Johnny Soares, Artur Nunes Gomes, Pérsio Gomyde Brasil e Marcelo Figueira tiraram décimos da escola por causa do exagero do subtema futebol na narrativa desenvolvida pelo carnavalesco Fábio Ricardo.

Segundo Johnny Soares, a Grande Rio “pecou pelo excessivo destaque considerado ao subtema futebol”. Ele destacou que os setores 4 e 5 valorizam em demasia elementos associados ao universo futebolístico. Ele conclui que houve um “hiato na narrativa histórica, reduzindo o significado e a importância de Santos aos campos de futebol”.

Para o jurado Artur Nunes Gomes, a “ausência de um fio condutor do enredo teve como consequência a apresentação de uma série de fatos e personalidades ligados à cidade de Santos sem, no entanto, formar uma unidade temática”. Para o jurado, “privilegiou-se a importância do futebol para a cidade”.

Pérsio Gomyde Brasil também citou o uso excessivo do subtema futebol. “(A escola) exagerou ao dar um peso excessivo ao subtema se comparado a outros aspectos extremamente importantes dessa que é uma das principais cidades do estado economicamente mais importante do país”.

Já Marcelo Figueira fez questão de levantar dúvida sobre o real enredo da Grande Rio. “Restou-me dúvida se o enredo da escola de Caxias pretendia contar a história real da cidade de Santos ou falar do Santos Futebol Clube e dos craques por ele lançados”.

Fantasias

Outra categoria mal avaliada pelos quatro julgadores. Sem considerar o descarte, a Grande Rio levou: 9.9; 9.7; 9.7 e 9,9. 

Regina Oliva apontou que alguns papagaios nas fantasias da ala dos corsários caíram e prejudicaram o visual estético.

Paulo Paradela enxergou problemas em três alas. Para ele, houve exagero elementar na ala “Saneamento e Urbanização” que poluiu a fantasia e dificultou a sua leitura. Para ele também houve poluição na ala “Comissários do Café”. O jurado analisou que os elementos combinados na fantasia não atingiram a mensagem proposta. Já na ala “O homem de Saturno”, a fantasia não remeteu de modo claro a Pelé que era, na prática, o tema principal da fantasia.

A julgadora Helenice Gomes disse que houve exagero nos chapéus das alas “Brás Cubas, o fundador” e “Corsários”. Já na ala das baianas, a “Casa da Frontaria Azulejada”, havia muitos elementos representativos, que poluíram a fantasia. Assim como Paulo Paradela, Helenice também criticou a ala “Comissários do Café”, com a colocação que a fantasia era volumosa, o que dificultava o entendimento. Na “Corrida das Estradas de Santos”, a jurada viu muitas bandeiras amassadas e esplendores caindo. Já na ala “México 70”, grande parte dos integrantes tinham o adereço da cabeça manchado e amassado. Em “Um brinde à Santos”, a avaliadora também enxergou adereços principais caídos e quebrados. 

Já Desirée Bastos destacou a falta de plumas na parte de trás das fantasias da “Santa Casa de Misericórdia”. Em “Corridas nas Estradas de Santos”, muitas placas onde se lia “Largada” estavam tombadas. Nas alas “México 70” e “Um brinde à Santos”, a julgadora relatou os mesmos problemas apontados por Helenice Gomes.

Harmonia

Em Harmonia, a Grande Rio levou as seguintes notas, sem considerar o descarte: 9.9; 10; 9.9 e 10.

Tanto Humberto Fajardo da Silva quanto Mirian Orofino Gomes relataram o andamento acelerado da escola, que prejudicou o canto e causou dificuldade no entendimento da letra do samba. Mirian ainda citou que as alas “Corridas nas Estradas de Santos”, “O Atleta do Século” e “Pelados em Santos” tinham alguns componentes que não cantavam.

Evolução 

A Grande Rio conseguiu obter a nota máxima em Evolução, já que, pelo descarte, a nota 9.9 de Paola Novaes não foi computada na soma final. Entretanto, segundo a jurada, nas alas “Mercadorias do Porto” e da Baianas, os integrantes tiveram dificuldades para evoluir e dançar com as fantasias.

Alegorias e adereços

Alegorias e adereços foi o terceiro quesito-chave para a pontuação da Grande Rio. Sem considerar o descarte, a agremiação levou: 10; 9.9; 9.8 e 9,9.

Madson Oliveira encontrou problemas no acabamento na segunda alegoria: “O patriarca da Independência e a representação sobre a escravatura”. No tripé “Bola de Ouro”, que levava o pai de Neymar, o jurado apontou que um saco transparente que carregava bolas, que foram distribuídas ao público, ficou visível após o ato. Já no carro “Desembarquei no Porto da Felicidade”, o julgador disse que o piso do platô superior estava se soltando.

O jurado Walber Ângelo de Freitas também relatou problemas de acabamento no segundo carro alegórico e citou o tripé “Bola de Ouro” com material de pouco impacto visual. O julgador também comentou falhas de acabamento nos carros “O Cheiro do Café” e “Um Gigante em Campo”.

Por fim, Rebeca Kaizer criticou o material utilizado no carro “Um Gigante em Campo”. Segundo ela, o material utilizado para fazer a baleia não funcionou bem, ficou enrugado em algumas partes e com a estrutura aparente.

 

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