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Cotidiano

Retomada econômica exigirá mudanças no Porto

As mudanças deverão ser implementadas para atender uma maior movimentação de cargas e a demanda de navios maiores, de 366 metros de comprimento

Gilmar Alves Jr.

Publicado em 31/12/2017 às 10:00

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Aprofundamento do canal de navegação está entre as medidas necessárias / Rodrigo Montaldi/DL

Uma retomada do crescimento econômico no Brasil em 2018 exigirá uma melhor infraestrutura no Porto de Santos para atender uma maior movimentação de cargas e a demanda de navios maiores, de 366 metros de comprimento, afirmam especialistas.

O aprofundamento do canal, a dragagem de manutenção constante, além de novos rebocadores no complexo, são medidas necessárias para garantir o crescimento do Porto no novo contexto, conforme afirmou ao Diário do Litoral o prático Carlos Alberto de Souza Filho, membro do Conselho Técnico do Conapra (Conselho Nacional de ­Praticagem).

Com uma profundidade de 17 metros, por exemplo, o Porto de Santos poderá operar navios de 16 metros de calado. A profundidade do canal atualmente é de aproximadamente 15 metros, operando com navios de até 14,20 metros de ­calado.

“A iniciativa privada tem uma agilidade muito maior. Ela não está sujeita às restrições da Lei de Licitações (...) Não está sujeita a contigenciamento de orçamento público”, diz Souza Filho.

Os acessos náuticos, no âmbito nacional, foram tratados por especialistas de diversos setores, em novembro, no seminário Técnicas Modernas de Projetos de Acessos Náuticos com Base na Nova Norma da ABNT, na Universidade de São Paulo (USP), nos dias 7 e 8. Eles tiveram a avaliação comum de que o Brasil só não sente mais fortemente os efeitos da falta de investimentos no setor portuário devido ao baixo desempenho da ­economia.

“Os nossos portos não estão preparados”, afirmou, durante o evento, Edson Mesquita, professor do Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga) da Marinha.

Diretor-presidente do Conselho Nacional de Praticagem, o prático Gustavo Martins, disse, também no seminário, que os portos precisam estar prontos para a demanda de crescimento do agronegócio, da mineração e da indústria do petróleo.

“Temos que nos preparar para os desafios e isso leva tempo. O que for planejado agora vai definir a restrição operacional futura. Por isso, a importância do planejamento portuário. A carga vai sempre para o porto mais eficiente, ágil e competitivo: logo, necessitamos dos melhores projetos”, afirmou Martins.

Os navios de 366 metros têm 52 metros de largura (boca). A capacidade de operação hoje no cais santista é para navios de até 340 metros de comprimento e 45 de largura (boca).

Expansão

Para um aproveitamento maior das margens do estuário do cais santista, o prático Souza Filho defende avanços em estudos para terminais na área de Conceiçãozinha (margem esquerda) e na Ilha de Bagres, onde ele avalia que há uma capacidade de “expansão muito grande”. Ele também cita a Alemoa, onde deverá construído um novo terminal de granéis líquidos e produtos químicos.

Um plano de expansão do Porto de Santos elaborado pelo Consórcio Louis Berger-Internave, em 2010, identifica estas três áreas, além do fundo da Ilha Barnabé, a região do Itapema e a Prainha.

Como entraves, há desapropriações de áreas ocupadas por habitações e áreas preservadas sob aspectos ambientais.

Souza Filho entende que soluções técnicas para expansão nas margens é uma saída mais simples do que a construção, por exemplo, de um porto off-shore (plataforma instalada distante da costa).

A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp) foram procurados pela Reportagem para entrevistas de seus representantes, mas as solicitações não foram atendidas.

Com navios maiores, novos rebocadores serão necessários

“Os rebocadores brasileiros em operação não foram projetados para dar conta do tamanho dos navios de hoje, eles perdem a estabilidade, não são do tipo especial, que servem para governabilidade em canais estreitos onde os navios começaram a perder capacidade de manobra. Os práticos têm feito mágica”, afirmou, no seminário da USP o comandante Plinio Calenzo, do Instituto Brasileiro de ­Rebocagem.

Ao Diário do Litoral, o prático Carlos Alberto de Souza Filho, disse que houve evolução nos rebocadores nos 12 anos em que ele atua no cais santista. “Só que junto com esse salto veio o aumento exponencial do tamanho dos navios e do peso deles, porque aumentaram em comprimento, em boca (largura) e calado.


O prático Carlos Alberto de Souza Filho, membro do Conselho Técnico do Conapra, em entrevista ao Diário do Litoral

“Estamos em condições próximas ao limite com os rebocadores que nós temos”, disse Souza Filho.

Pelo tamanho destes novos navios, conforme relata o prático, estará em questão  uma dificuldade muito grande de fazer duas curvas em Santos: na região do Ferry Boat e do Armazém 12 (Paquetá).

“O ideal é que todos os rebocadores tivessem a capacidade de operar no modo indireto”, afirma o prático.

No modo indireto, com a finalidade de governar ou retardar o movimento do navio, o rebocador tem geralmente sua proa voltada para a popa do navio assistido.

Para a operação no modo indireto, conforme Souza Filho, é fundamental o treinamento dos comandantes.

O prático também frisa a importância do skeg (talão de quilha) no rebocador, já que proporciona estabilidade maior para fazer a operação no modo indireto.

Sistema inovador

A Praticagem de São Paulo usa no Porto de Santos desde 2016 o Redraft – Calado Real, um sistema que mede a profundidade em tempo real dos canais de navegação e que gerou prêmio, no mês passado, concedido pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

O Redraft calcula com mais precisão o calado máximo dos navios considerando as condições ambientais da maré, ondas e correntes marítimas. Em um período de um ano após a sua implantação, a restrição para uma embarcação acessar ou deixar o Porto por causa de um calado caiu de oito para quatro dias.

O software, desenvolvido pela empresa Argonáutica, incubada na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), cruza as informações do centro operacional da Praticagem com as caraterísticas de dez mil embarcações catalogadas.

Recorde de movimentação é batido

O Porto de Santos divulgou na última quarta-feira (27) que bateu já em novembro o recorde anual de movimentação de cargas, ultrapassando o resultado total obtido em 2015. Foram 119,96 milhões de toneladas que passaram pelo cais santista em 2017, contra 119,93 milhões do recorde anterior, de acordo com números levantados pela Gerência de Estatísticas da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

Embora a movimentação continue sendo alavancada pelo agronegócio, destaca-se a movimentação de contêineres, que representa 34% do total, o que aponta para a diversificação de cargas que passam pelo Porto de Santos.


Para curvas mais difíceis, rebocadores terão que ter capacidade de operar no modo indireto

O resultado positivo, de acordo com a Codesp, é beneficiado pela retomada do crescimento do país.

"Nós sempre fomos otimistas, buscando fazer o que precisa ser feito com coragem e determinação", destacou o presidente da Codesp, José Alex Oliva. Ele observou que a diversidade de operações permitiu ao Porto de Santos ampliar a participação no comércio exterior brasileiro mesmo no período de recessão econômica.

O mês de novembro de 2017 também foi um recorde absoluto, com o maior crescimento mensal registrado entre um ano e outro: foram 40,6% de acréscimo em relação a novembro de 2016.
 

 

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