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Cotidiano

Rede Hebe Camargo no HGA atende milhares e é referência

Ambulatório oncológico do Hospital Guilherme Álvaro atende a Baixada Santista e Vale do Ribeira

Publicado em 24/10/2016 às 09:54

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Na sala de aplicação de quimioterapia, médica e enfermagem ficam de plantão para atender intercorrências / Rodrigo Montaldi/DL

Pacientemente o enfermeiro Jurandyr Bezerra de Freitas vai apresentando à Reportagem todas as salas e alas do ambulatório de oncologia do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos. O coordenador do setor explica os detalhes e a rotina dos cerca de 20 profissionais que lá trabalham. Há três anos o casarão histórico, construído em 1904, abriga a Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer, programa do Governo do Estado. Somente no ano passado, mais de 15 mil pessoas passaram pela unidade, que é referência no tratamento oncológico e atende pacientes de toda a Baixada Santista e Vale do Ribeira. 

“Trabalhamos toda a parte ambulatorial. Se precisar internar a gente encaminha para a clínica do hospital. Os pacientes que chegam aqui já estão diagnosticados. Temos oncologistas e uma equipe multidisciplinar que envolve psicólogo, nutricionista, farmacêuticos, enfermeiros e assistente social”, disse Jurandyr, que é ­coordenador de ­oncologia. 

O enfermeiro apresenta à Reportagem os funcionários e os setores do ambulatório. Na recepção da unidade, alguns pacientes aguardam para ser chamados. Também há os que aguardam o anúncio dos médicos de plantão para a consulta do dia. O local conta com sala de procedimentos, sala de aplicação – onde é ministrada a quimioterapia, consultórios e sala de emergência. Ele contou que há dois meses 2.100 pessoas passaram por lá. “A tendência é crescer e chegar a três mil pacientes ao mês”, destacou. 

Pacientes

 Na sala de quimioterapia, alguns pacientes recebem o medicamento. A aplicação dura em torno de quatro a oito horas, dependendo do tipo de tratamento. Um médico, dois enfermeiros, um técnico e três auxiliares de enfermagem estão a postos para qualquer intercorrência. Nas gavetas do armário de ferro, as pastas com as informações de quem é tratado na unidade. 

“É ótimo o tratamento. Não tenho o que reclamar não”, disse Guilherme Barbosa da Silva, de 17 anos. De boné e coberto com um lençol, ele aguardava o término da sessão de quimioterapia acomodado em um cadeirão. O jovem mora em Peruíbe e utiliza o transporte cedido pela Prefeitura para fazer o tratamento, em Santos. “Descobri no começo do janeiro que tinha um tumor no testículo. Fui no pronto-socorro e o médico encaminhou para o AME com urgência. Estava muito evoluído. Fiz a cirurgia em 19 de julho”, ressaltou. Ele estava acompanhado da mãe. 

Algumas cadeiras à frente estava o pescador Isio Moreira, de 42 anos, que mora em Itanhaém, também no Litoral Sul. “Só conheci gente maravilhosa aqui. O tratamento e atendimento é melhor que particular. Só na sala de cirurgia tinha seis médicos”, ­destacou. 

Isio trata um tumor na virilha. Para chegar ao hospital, em Santos, ele utiliza o próprio carro. “Tudo está nos planos de Deus. Foi Deus que quis me curar. Descobri o nódulo na virilha e logo já fui encaminhado para cá”, afirmou. 

A aplicação de quimioterapia é dividida em quatro horários no ambulatório (8h-11h-14h-15h). O objetivo é otimizar o atendimento aos pacientes oriundos de cidades distantes. O medicamento é manipulado na farmácia da unidade, que conta com equipamentos modernos e controle de qualidade anotado cuidadosamente em papeis afixados na parede e nas pranchetas da enfermagem. 

Dedicação

Jurandyr atua com enfermagem há mais de 30 anos, 28 dedicados a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 24 no Hospital Guilherme Álvaro. O servidor público estadual é apaixonado pelo seu trabalho e faz questão de destacar o papel dos enfermeiros nas unidades de saúde. 

“A enfermagem lida 24 horas por dia com o paciente e sua história. Se perguntar para a enfermagem ela vai saber de tudo. A gente sabe, por exemplo, o problema social do paciente. Se ele não tem dinheiro para tomar um café ou para chegar a consulta. É através da enfermagem que assistentes sociais, psicólogos e médico são acionados. A enfermagem é muito importante dentro a saúde”, ­afirmou. 

O ambulatório de oncologia do Hospital Guilherme Álvaro possui equipamentos de ponta, como mamógrafo de última geração, aparelho de ultrassom, ressonância magnética e de radioterapia e tomógrafo. Na unidade também são realizadas cirurgias de reconstrução de mama. Por meio das tulipas, voluntárias que atuam na unidade, as pacientes recebem lenços, próteses externas e perucas, que chegam por meio de doações. Também são servidas refeições a todos os acompanhantes. 

Humanização e amor ao próximo 

Durante a série sobre o câncer, publicada no Diário do Litoral entre os dias 9 e 15 deste mês, a Reportagem ouviu uma senhora que faz tratamento no ambulatório do Guilherme Álvaro. Disse que conseguiu levantar da cama e lutar contra a doença após ouvir o depoimento de uma médica do hospital, que passou pelo mesmo problema. Era a diretora clínica da unidade, Vera Pinheiro, que utiliza a humanização para acolher os pacientes e dar amor ao próximo. 

“Há oito anos enfrentei um câncer de mama. Enfrentei trabalhando, tomando remédios, fazendo reeducação alimentar, dieta regrada. Não costumava contar a minha história porque não queria me vitimizar. Mas agora não tem problema. Deus me deu a restauração de vida para continuar fazendo o melhor para as pessoas”, disse a médica. 

Vera também é presidente da Humanização da Secretaria Estadual de Saúde, sanitarista e gestora pública. Divide a rotina no hospital com as aulas na Faculdade de Medicina de Santos, onde faz questão de reforçar aos alunos a necessidade do acolhimento na saúde. Nasceu no Gonzaga e é de uma família de 15 irmãos.

Mãe de quatro filhos, trabalhou 27 anos no atendimento de emergência e há 23 anos está no Hospital Guilherme Álvaro. 

“Humanização é cumprimentar, pegar na mão do paciente. O médico não pode ficar sentado e o paciente de pé. Falo sempre aos médicos que é preciso se aproximar de Deus e ter fé independente de religião. A gente também tem que respeitar as pessoas. Tratar independente de quem seja ou que tenha feito. A nossa missão é cuidar do próximo”, destacou. 

A médica também destacou a necessidade de cuidados com a família dos pacientes. “O cuidador precisa de cuidado. Quem cuida de alguém acaba doente. O desgaste físico e emocional é muito grande”.
Sobre o atendimento no ambulatório de oncologia do hospital, ela ressalta orgulhosa: “Procuramos fazer o melhor. Temos uma grande equipe. Uma equipe de pessoas envolvidas neste trabalho, principalmente aqui na Rede Hebe Camargo. Uma equipe de médicos maravilhosos que estão atendendo aos pacientes todos os dias. Equipe de enfermagem maravilhosa que dá todo o apoio, carinho e respeito ao paciente e seu acompanhante. O paciente fica por quatro horas aqui dentro recebendo a quimioterapia. Sou muito feliz”. 

Além do Hospital Guilherme Álvaro, atualmente, a rede Hebe Camargo conta com 76 serviços localizados em 40 municípios do Estado. Na Baixada Santista também atendem e compõem a rede de oncologia o Beneficência Portuguesa, o Santo Amaro, a Santa Casa de Santos e o Hospital Regional de Pariquera-Açu.

A importância do diagnóstico precoce

No ambulatório do Hospital Guilherme Álvaro, os cânceres com maior incidência são os de mama, gastrointestinal – intestino grosso, reto e principalmente estômago, de próstata e de pulmão. O oncologista clínico Silvio Aquino Ayala, que atua na unidade desde a sua instalação, disse que, atualmente, a principal dificuldade que eles enfrentam é o diagnóstico tardio. A unidade é destinada apenas ao tratamento e não ao diagnóstico, que é feito nos municípios de origem dos pacientes. 

“Dentro das nossas possibilidades fazemos um tratamento oncológico interessante. Embora tenhamos dificuldades em algumas áreas, o diagnóstico é o principal problema. Nem todos os municípios estão preparados para isso. Existe um vácuo muito grande. Temos problemas na prevenção. Nossos pacientes chegam para nós com as patologias muito avançadas. E o que isso representa? A possibilidade de cura muito reduzida. Isso não é um problema de Santos, é um problema nacional. Um problema de países latino-americanos e de países pobres”, destacou o especialista. 

O médico, que atua com oncologia há 23 anos, também ressaltou o crescimento da doença. Segundo ele, há cânceres que tiveram alta e outros baixa e isso pode ser reflexo de alguns fatores como o acesso à saúde. 

“A questão da incidência do número de câncer, que é uma preocupação atual, existem dados muito bem definidos. O acesso a saúde tem melhorado, independentemente de qualquer coisa. É mais fácil chegar ao médico. Embora existam dificuldades, hoje é muito mais fácil do que antes. Hoje ficou mais fácil identificar. Hoje se tem registro de câncer em todo o Estado São Paulo, que funciona muito bem. Se tem uma estatística de câncer. Eu acho que o Estado de São Paulo, embora tenha muitas dificuldades, está melhor que outros estados”, afirmou Ayala.  

O especialista destacou ainda a importância do trabalho de prevenção e da mudança de hábito das pessoas para conter a doença. “Essa questão da vacina do HPV, que é o papiloma vírus humano, que vacina contra quatro tipos de vírus mais perigosos para o câncer, vai ter um impacto. Se o ­Brasil conseguir vacinar todo mundo, nos próximos 50/100 anos vai ter um impacto grande. Não tem como não ter. Mas isso é a longo prazo. A prevenção continua sendo o carro-chefe de tudo isso. Muita coisa é preciso mudar, inclusive o estilo de vida das pessoas”, finaliza. 

 

 

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