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A lei estimulou os cooperados porque, na teoria, com a obrigação de separar o lixo antes do descarte, diminuiria a quantidade de rejeitos que chegam à cooperativa. Mas, na prática, isto não vem acontecendo.

A notícia da sanção da Lei Recicla Santos, há pouco mais de um ano, animou diversos setores, inclusive o de trabalhadores da Cooperativa de Materiais Recicláveis Santista (Comares), na Alemoa, conveniada à Secretaria de Meio Ambiente (Semam). A lei estimulou os cooperados porque, na teoria, com a obrigação de separar o lixo antes do descarte, diminuiria a quantidade de rejeitos que chegam à cooperativa. 

Mas, na prática, isto não vem acontecendo. Pelo contrário: depois da lei diminuiu a quantidade e a qualidade do material encaminhado para a cooperativa e a porção de rejeito aumentou. 

No mês de janeiro deste ano, por exemplo, a tonelada de recicláveis comercializada pela Comares foi de 266.590,00 toneladas contra 276.730,00 de rejeito. A mesma situação ocorreu nos meses de fevereiro, março e maio. 

Odete Cunha, presidente da Comares, acredita que além de a sociedade ainda não estar cumprindo a lei, as novas empresas que realizam o serviço de coleta na cidade levam o material de mais qualidade e só o que sobra é retirado pela Prodesan.  

“As garrafas plásticas, por exemplo, quase não vêm mais. O mesmo acontece com o papelão, ou seja, as empresas pegam o material mais nobre, com maior valor de venda. Também são elas que fazem a coleta dos grandes geradores (supermercados e shoppings) e nos bairros de classe média, como o Gonzaga, região com muito resíduo reciclável por causa do comércio, e a orla. Para nós resta a coleta dos bairros, locais onde a maioria das pessoas ainda não se conscientizou sobre a importância da separação do lixo, comportamento que impacta diretamente o nosso trabalho”, detalha Odete. 

Ela diz saber que a cooperativa sozinha não daria conta de receber todo o material da cidade e sobre a necessidade da contratação de empresas do ramo, mas acredita que falta uma reformulação no cronograma da coleta. A sugestão, segundo a presidente da Comares, seria que pelo menos duas vezes por semana a cooperativa recebesse o material recolhido das regiões onde a lei já pegou. “Isto traria mais organização para a coleta e diminuiria a quantidade de rejeitos que chega pra nós”. 

Outro detalhe é que, com a lei, os grandes geradores se tornaram responsáveis pela coleta e destinação dos resíduos que produzem, por isso, são obrigados a contratar empresas que fazem o serviço. “Só que ninguém nos contratou e acredito que é porque nem sabem da nossa existência. A divulgação do nosso trabalho poderia ser feita pela administração municipal de maneira mais enfática até como forma de incentivo”, afirma Odete. 

A rotina

A Comares conta atualmente com 75 cooperados que trabalham de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados das 8h ao meio-dia, ganhando um salário mínimo por mês. São homens, mulheres, jovens, pessoas que por diversos motivos só conseguiram ser acolhidas por um setor ainda marginalizado por muitos, mas de extrema importância para a preservação do meio ambiente. 

Por causa do trabalho deles, deixam de ir para o aterro sanitário cerca de duas mil toneladas/ano de resíduos, que voltam à cadeia produtiva. 

Por dia, descarregam na cooperativa cerca de 10 caminhões da Prodesan, responsável pela coleta seletiva em Santos. A média se manteve a mesma anterior à lei, segundo Sérgio Gomes, diretor administrativo da Comares. 

Em fotos, Sérgio mostra a quantidade de sacos com restos de comida, como macarrão e feijão, que foram descartados na coleta seletiva do dia anterior à visita da Reportagem. 

“Isso mostra que o que tem chegado para nós é lixo comum, não reciclável”, reclama. 

A parceria com a prefeitura envolve, além do envio do material coletado pela Prodesan, a cessão do terreno onde hoje está instalada a cooperativa, o pagamento das contas de água e luz e o sistema de segurança, que apresenta falhas.

Só neste ano, a cooperativa teve um prejuízo de R$30 mil por roubo de fiação, portas, máquinas e até material reciclável que seria vendido.

“Eles fazem buracos nos muros laterais da cooperativa pra entrar. A existência de câmeras talvez impedisse as ações”, acredita Sérgio. 

No refeitório, duas telhas estão quebradas. Com isso o local onde os cooperados almoçam fica muito sujo toda vez que chove. Questionados sobre o conserto, Odete respondeu que eles mesmos são os responsáveis, mas falta dinheiro. 

“Não tem sobrado. Por isso é importante que as pessoas se conscientizem sobre a importância da separação dos resíduos e não embalem lixo com recicláveis porque isso inviabiliza nosso trabalho”, alerta.

Respostas

Em entrevista ao DL, o secretário de Meio Ambiente Marcos Libório explicou que a prefeitura não interfere nos contratos fechados entre os grandes geradores e as empresas particulares que oferecem o serviço de coleta, apenas verifica se a destinação dada aos produtos está correta. 

Quanto às reclamações relacionadas ao aumento da quantidade de rejeito, disse que as pessoas ainda estão se adaptando à lei e que a pasta está investindo em educação ambiental. 

Em relação à coleta, informou que faria uma reunião com a Prodesan para aprimorar o treinamento dos coletores e verificar os motivos de estarem levando para a cooperativa resíduos que não são recicláveis. 

“A Prodesan recebe para fazer a coleta seletiva, então não pode despejar lá lixo comum. O sistema ainda não é perfeito, mas estamos aprimorando”, afirma o secretário. 

Quanto à questão da falta de divulgação da cooperativa pela Administração Pública, ressaltou que o convênio que a Comares tem com a prefeitura se refere apenas ao recebimento da coleta seletiva e destacou a importância da autonomia na gestão da cooperativa pelos próprios cooperados. 

“Eles são independentes e podem oferecer o serviço de coleta para os grandes geradores, basta que se cadastrem na secretaria do Meio Ambiente e cumpram os requisitos”. 

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