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Cotidiano

Mulheres são proprietárias de 86% dos imóveis do Minha Casa, Minha Vida

Mulheres reescrevem suas histórias e respondem por 86,8% das escrituras do Minha Casa, Minha Vida

Rafaella Martinez

Publicado em 25/06/2018 às 14:20

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Dona Margarida Firmino, de 68 anos, também é chefe de família. / Rodrigo Montaldi/DL

Exatos dois anos e dois meses separam as lágrimas de dona Iraci Aparecida Rodrigues da Silva do dia em que foi sorteada pelo programa ‘Minha Casa, Minha Vida’ até o sorriso largo da senhora que abre a porta de um dos apartamentos do Conjunto Residencial Tancredo Neves.

Em comum entre aquele longínquo dia 11 de março de 2016 e o último dia 12 de junho apenas as personagens dessa história – no caso, a dona Iraci e a repórter que há dois anos, sem saber, entrevistou a senhora que seria uma das sorteadas dentre 19.695 nomes inscritos. Na casa onde hoje vivem, as mulheres são maioria: dos quatro moradores, três são do sexo feminino, sem contar a mais nova herdeira que está para nascer.

A realidade é a mesma de outras 1.130.799 mulheres brasileiras: de acordo com o Ministério das Cidades, elas são proprietárias de 86,8% das moradias do programa do Governo Federal. 

Na casa pequena, composta por sala, dois quartos, banheiro e cozinha acoplada à área de serviço, dona Iraci relembra o longo caminho que percorreu até o ingresso na casa própria, que aconteceu há um mês. “É um renascimento em vida. Tem dias que eu acordo, olho para as paredes e choro por ser tão abençoada.

Por estar, finalmente, na minha casinha”, conta.

A caminhada até a conquista foi marcada por percalços. Por muitos anos, a família viveu em uma palafita improvisada de dois cômodos no Dique das Caixetas, em São Vicente. Com a filha desempregada e sem conseguir vaga para creche, a única renda da família era a aposentadoria de Iraci.

Dona Iraci chorando no sorteio (Rodrigo Montaldi/DL)

“Desde que fui sorteada comecei a comprar alguns móveis. Consegui o micro-ondas usado por R$100 e o fogão eu ganhei. Demorou tanto tempo, mas ao menos deu para ir juntando as coisas. Eu quis sair de lá com a menor quantidade de coisas possíveis. Quis deixar para trás as enchentes, a violência e o medo de andar na rua ou de acontecer um acidente com meus netos. A Valentina vai nascer em uma nova realidade. Estou feliz”, conta Iraci.

Com a tartaruga Alice em mãos, a netinha Maria Eduarda conta que não sente medo na casa nova. “Uma vez meu irmão tirou uma pedra da parede e a gente ficou com medo da casa que a gente morava cair. Aqui não tem pedra, tem janela e minha avó vai tentar pintar o nosso quarto de rosa”, conta a menina, acrescentando que no novo playground conseguiu, enfim, andar de bicicleta. “Minha mãe não deixava eu ir para rua e a gente não tinha quintal lá”, conta. 

Chefes de família

As famílias que moram em áreas de risco ou que possuem mulheres chefes de família são priorizadas na modalidade do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) que atende a famílias com renda de até R$ 1.395. Além de terem preferência feminina na escritura das casas entregues (especialmente as mães), desde 2012, o Minha Casa Minha Vida 2 prevê que mulheres separadas podem adquirir um imóvel mesmo sem a assinatura do cônjuge ou no caso em que não houve divórcio judicial. Essa modalidade é limitada às famílias com renda mensal de até três salários mínimos. A exceção só acontece quando o pai tiver a guarda exclusiva dos filhos. Somente neste caso, o marido ficará com o imóvel após a separação.

Dona Margarida Firmino, de 68 anos, é uma dessas mulheres. Morando há um mês na nova casa, no Lote 12 do Conjunto Habitacional Tancredo Neves, a mulher divide o imóvel com outras cinco pessoas: dois filhos, dois netos e uma nora.

Em tratamento de um câncer, a aposentada conta que a mudança fez bem para a sua saúde. “Morei 20 anos em cima do mangue. Nunca foi uma escolha e sim uma necessidade. A gente sobrevive com o que tem e quando não tem dinheiro a gente mora onde consegue. Foi uma mudança grande, tenho mais tranquilidade aqui. Consigo colocar a cadeirinha aqui fora e ficar vendo minha netinha brincar. Não tem comparação”, conta.

 

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