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Cotidiano

Em Cubatão, Mumu resgata a tradição do samba de raiz

CULTURA POPULAR. Roda de samba resgata ancestralidade do ritmo e promove intercâmbio cultural na Avenida Beira Mar

Rafaella Martinez

Publicado em 26/02/2017 às 11:30

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Com rodas temáticas, as rodas acontecem sempre nos segundos domingos do mês, das 15 às 21h / Divulgação

Filho do ‘seu Carnaval’ e da delicada ‘foliã de arquibancada’, Aloísio Souza Castro Junior, o Mumu, cresceu escutando os clássicos do samba nos vinis do pai. A paixão pelo gênero musical de raízes africanas guiou a vida do menino que virou sambista, Rei Momo e hoje dá nome a uma das mais tradicionais rodas de samba da Baixada Santista: o samba do Mumu de Cubatão.

Formado por 10 membros na equipe diretora, o Samba do Mumu nasceu da união de um coletivo que tem como luta a união, popularização e preservação da cultura afro-brasileira. O grupo cubatense usa o tradicional ritmo afro-brasileiro para atuar no incentivo ao empreendedorismo, pratica de ações sociais e a popularização das manifestações culturais afro-brasileiras.

“O samba do Mumu começou oficialmente há dois anos, a partir da sugestão de uma amiga. Mas antes disso diversos outros eventos que ressaltavam a importância da difusão do samba de raiz já aconteciam aqui nesse espaço”, ressalta Aloísio, apontando para o deck da Avenida Beira Mar, no Jardim Casqueiro.

É no espaço com visão privilegiada da Baixada Santista e onde o vento sopra saudade que a tradicional roda de samba acontece todos os segundos domingos do mês. São sete músicos fixos e dois convidados: um de Cubatão e outro do cenário regional. Mas esse número corresponde apenas ao início das apresentações, afirma o sambista. “No meio das apresentações as vezes olho e vejo mais de 20 pessoas tocando. Isso é lindo, pois esse é justamente o objetivo: ir até as pessoas e interagir com elas”, conta sorrindo.

De riso fácil, Mumu conta com alegria e empolgação como se apaixonou pelo ritmo que dá o compasso deste domingo de Carnaval. “É de sangue, não tem jeito. Meu pai é conhecido como ‘Seu Carnaval’ e mamãe desde que erámos muito pequenos nos levava para assistir aos desfiles com um isopor cheio de lanchinhos na arquibancada, para ter mais segurança. Cresci aplaudindo essa galera que samba na raça aqui na Baixada e foi por conta deles que sonhei em participar dessa festa. Fui por dez anos Rei Momo do Carnaval de Cubatão e hoje faz uma década que deixei o posto. Sigo vivendo e vibrando samba e reverenciando quem nutriu meu amor por ele neste caminho”, conta.

Organização

Considerada como uma Comunidade de Samba pela Associação dos Sambistas, Terreiros e Comunidades de Samba do Estado de São Paulo (Astec SP), o Samba do Mumu é batizado pelos renomados sambistas Duda Ribeiro, embaixadora do samba de São Paulo e Ivison de Souza, fundador do berço de samba de São Mateus.

Mais do que ofício e paixão, as tradicionais batucadas na Beira Mar passaram a transmitir valores da cultura afro. “Nossa roda de samba está intimamente ligada às religiões de matrizes africanas. Nossos padrinhos espirituais são Ogum e Iemanjá, por isso nossas cores são as cores de São Jorge e sua imagem está sempre presente em nossas apresentações. Além disso, promovemos o crescimento de outras manifestações culturais afro brasileiras”, aponta.

No espaço kids, que acontece ao mesmo tempo que as apresentações, são contadas histórias tradicionais e confeccionadas bonecas abayomi, símbolo de resistência, tradição e poder feminino na África

“Na minha concepção uma roda de samba de raiz precisa estar na praça pública. Precisa estar em sintonia com o povo. Eu não vivo de samba e sim para propagar o samba de forma gratuita. Para conseguir dinheiro a gente trabalha, rala em outras áreas”, afirma.

Repertório

“Temos em nosso repertório uma variedade musical que mescla o samba antigo e a nova raiz, passando por figuras clássicas como Beth Carvalho, Alcione e Leci Brandão. Essa mescla de passado, presente e futuro fica ainda mais evidente durante a apresentação no momento em que o casal de mestre sala e porta bandeira infantil entra, deixando claro que o samba resiste e atravessa as gerações”, destaca.

Gênero centenário, samba é a alma do Carnaval brasileiro

Gênero musical ‘neto’ do jongo (manifestação que já foi tema do DL Cultura), o samba é considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras.

Dentre suas características originais, possui dança acompanhada por pequenas frases melódicas e refrões de criação anônima, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano. Apesar de ser um gênero musical resultante das estruturas musicais europeias e africanas, foi com os símbolos da cultura negra brasileira que o samba se alastrou pelo território nacional.

O centenário do samba, comemorado em 2016, é considerado uma data controversa entre os historiadores.

Isso porque antes de surgir no Rio de Janeiro no início do século XX, as tradicionais batucadas do samba já aconteciam em outras regiões do Brasil, como Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo.

O centenário remete ao marco dentro da história moderna e urbana do samba ocorrido em 1916, no próprio Rio de Janeiro, com a gravação em disco de “Pelo Telefone”, considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil (segundo os registros da Biblioteca Nacional). O sucesso alcançado pela canção contribuiu para a divulgação e popularização do gênero musical.

Com rodas temáticas, o Samba do Mumu acontece sempre nos segundos domingos do mês, das 15 às 21h.

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