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Cotidiano

Cooperativas da Região têm dificuldade em reciclar

Mesmo consideradas recicláveis, embalagens plásticas ou metalizadas não encontram mercado

Vanessa Pimentel

Publicado em 09/07/2017 às 10:00

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Garrafas plásticas de leite e embalagens metalizadas como as de salgadinhos se acumulam nas cooperativas da Região / Matheus Tagé/DL

Trabalhadores das cooperativas de materiais recicláveis da Baixada Santista estão com problemas para repassar determinadas embalagens classificadas pelos fabricantes como reutilizáveis. O fato foi relatado durante as reportagens da série especial “Meio Ambiente – O Caminho do Lixo”, produzida mês passado pelo Diário do Litoral.

No decorrer das visitas, a Reportagem notou grande quantidade de embalagens de salgadinhos, biscoitos, café e garrafas plásticas brancas que armazenam leite paradas pelos cantos das cooperativas. Em todas elas, a explicação foi a mesma: não há compradores para estas embalagens devido ao tipo de plástico que as compõe.  

Segundo Claudio Guedes, proprietário há mais de dez anos de uma empresa que compra recicláveis das cooperativas da Baixada Santista, para revender nas indústrias em São Paulo, no caso das embalagens dos alimentados citados, a parte metalizada que as compõe internamente prejudica a venda.

“Não tem comprador para elas. Eles falam que não tem como separar a parte metalizada interna do restante do plástico e o processo de limpeza é muito trabalhoso”, explica Guedes.

Ele diz que na categoria de tipos de plásticos, o laminado é conhecido como BOOP (bi-axially oriented polypropylene, que significa película de polipropileno biorientada). Ele é vantajoso para a indústria alimentícia porque protege o contato da mercadoria com o oxigênio, variações de temperatura e umidade. Porém, apesar de ser classificado como reciclável, o Brasil ainda não possui tecnologia disseminada para trabalhar com este tipo específico.

Garrafas de leite

Laércio Fiorti, gerente da Air Del Ecológico Reciclável, afirma que em relação às garrafas plásticas de leite, a venda também é difícil. “O problema da garrafa de leite é que ela tem um line (banho de película com um material que ajuda a conservar o leite) que não tem aplicação no mercado, por isso, não tem comércio para elas”, explica.

Ele conta que as garrafas pet são triadas por cor. Ao chegar na empresa, elas vão para uma máquina que retira os rótulos, também recicláveis. Posteriormente são moídas e encaminhadas para um processo de lavagem e secagem. “Então esses resíduos se transformam em flakes e a partir deles é possível fazer resinas e chapas”, detalha.

Porém, as embalagens descritas com ‘cores fechadas’, aquelas onde não se vê o outro lado, como as de leite, ainda não fazem parte do processo. “As garrafas de leite da Shefa, por exemplo, tem a cor fechada e para prejudicar ainda mais, recebem um banho com uma substância que ajuda a proteger do sol e da luz, mas que interfere na capacidade dela em ser reutilizada. A gente até tentou testar com algumas empresas que compram os nossos flakes, mas elas não aprovaram”, justifica Laércio.

Já as embalagens metalizadas, de acordo com ele, são recicláveis, mas apenas em empresas específicas. “Falta conhecimento sobre esse assunto no país”, acredita.  

 Enquanto isso as cooperativas da Baixada Santista sofrem com o acúmulo dessas embalagens. A ABC Marbas, cooperativa de Cubatão, está com 20 fardos de garrafas de leite parados. “A gente nem pega mais porque não conseguimos vender, daí fica ocupando espaço à toa no galpão. É uma pena porque quando não conseguimos destinar corretamente, acaba indo tudo para o aterro”, explica Carlos Antônio de Araújo, presidente da entidade.

Eduardo Silva, da cooperativa Coopersubert, em Bertioga, também enfrenta o mesmo problema e precisou parar de pegar as embalagens. Em Santos, Marcelo Adriano da Silva, presidente da Cooperbrasil, deixou os fardos em um canto enquanto espera alguma solução que, de fato, vá de encontro ao símbolo de material reciclável encontrado no verso das embalagens.

O que dizem as empresas

O Diário do Litoral questionou as empresas que se utilizam destes tipos de embalagens para saber se existe alguma política para destinação correta do que produzem. Vale lembrar que de acordo com as normas estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), sancionada em 2010, a chamada logística reversa prevê a responsabilização de fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes pelo descarte dos produtos que sobram após o consumo, como embalagens e ­eletrodomésticos.

Dessa forma, a coleta seletiva e de descarte dos materiais, assim como a responsabilidade da destinação correta das embalagens deveria, de acordo com a lei, ser financiada pelo setor produtivo e não mais pelo Poder Público.

PepsiCo Brasil

A assessoria da empresa PepsiCo Brasil, responsável pelas embalagens de salgadinhos como Doritos, Cebolitos e Ruffles, informou que os executivos responsáveis pela área e que detém as informações sobre o assunto não estavam disponíveis, mas que tentaria enviar uma resposta até ontem. Porém, até o fechamento desta reportagem, não houve retorno.

Shefa

A Shefa, responsável pela embalagem de Leite Shefa não respondeu aos questionamentos.

Danone Brasil

A Danone Brasil, responsável pela embalagem do leite ‘Paulista’, ressaltou por meio de nota que elas são feitas 100% de PET, podem ser recicladas e há possibilidade de venda do material, o que reforça a relevância da separação das embalagens para reciclagem por parte do consumidor. “Vale ressaltar que ainda há um desafio no desenvolvimento dessa cadeia de reciclagem, no qual a Empresa trabalha junto com seu fornecedor para fomentá-lo”, afirma um trecho do documento.

Destacou também que a Danone já desenvolve um programa de reciclagem pós-consumo chamado Novo Ciclo, que beneficia quase 70 cooperativas na região sudeste do Brasil. Mas, a Reportagem questionou novamente sobre o que fazer com as embalagens do leite Paulista sem destinação nas Cooperativas da Baixada Santista e não obteve mais retorno.

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