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Cotidiano

Aplicativo conecta quem precisa de ajuda com o álcool com quem pode ajudar

Após sentir na pele os efeitos devastadores do consumo excessivo de álcool, o advogado Paulo Leme Filho decidiu usar sua própria história de enfrentamento e vitória para auxiliar outras pessoas que lidam com o problema.

Rafaella Martinez

Publicado em 17/06/2018 às 13:48

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O advogado Paulo Leme Filho. / Divulgação

Após sentir na pele os efeitos devastadores do consumo excessivo de álcool, o advogado Paulo Leme Filho decidiu usar sua própria história de enfrentamento e vitória para auxiliar outras pessoas que lidam com o problema. Foi com esse intuito que criou o Movimento Vale a Pena, que desenvolve ações direcionadas para a prevenção da dependência; publicou dois livros – o primeiro

‘A doença do alcoolismo’, escrito em parceria com o pai, também ex-dependente e ‘Vai valer a pena’, que focam sua história pessoal com a dependência e desenvolveu o aplicativo ‘Eu me importo’, que une pessoas que precisam de ajuda com grupos que oferecem apoio gratuito em todo o Brasil.


Confira a entrevista.

Diário do Litoral: Como começou a sua história com o álcool?

Paulo Leme Filho: Comecei a beber na juventude, com uns 15 anos mais ou menos. Na época era pela farra, matava aula com os amigos para beber. Durante muito tempo eu bebi sem deixar de cumprir com as minhas obrigações: me formei no ensino médio, ingressei em uma faculdade pública e consegui um bom emprego. Eu digo que a dependência é progressiva e lenta: quando eu menos esperava eu perdi o controle da minha vida. Passei a ter dificuldade de fazer as coisas, perdi o emprego e parei a faculdade. Minha vida se resumia a beber.

Diário do Litoral: Você já tinha o histórico de dependência em casa, com o seu pai (o médico Paulo de Abreu Leme, abstêmio há 30 anos). Isso não te ajudou?

Paulo Leme: Eu tinha na minha cabeça a imagem do meu pai na fase final do alcoolismo. Depois de ter ficado muito debilitado e perdido grandes oportunidades profissionais ele foi procurar ajuda. Mas eu pensava que comigo era diferente. Quando ele ou minha mãe me alertavam eu dizia que era injusto que os pecados dele recaíssem sobre mim. Eu não me ­enxergava como doente. No entanto, no processo de recuperação a convivência com ele foi muito importante, pois uma coisa é saber que o vício tem cura e outra coisa era ter testemunhado esse processo.

Diário do Litoral: Quais foram os maiores problemas que a dependência te trouxe?

Paulo Leme: Desemprego, problemas de relacionamento, com a convivência familiar... a dependência mata a pessoas aos poucos. E quem está no vício tem uma interpretação distorcida da realidade. Na minha ótica eu sai da faculdade porque ela não estava boa. Perdi o emprego, mas ele era ruim. Eu sempre encontrava uma justificativa para meus atos e ela nunca era o meu vício.

Diário do Litoral: Escrever os livros foi uma forma de tentar ajudar outras pessoas que passam por esse problema?

Paulo Leme: Sim. Quando parei consegui retomar a minha vida, mas fiquei reservado com relação a abrir o anonimato por medo do preconceito e da desconfiança em relação ao meu trabalho. Só notei a necessidade de compartilhar minha história e ajudar outras pessoas quando meus filhos nasceram. Eu ia levar eles até a escola e via todas aquelas crianças e pensava quantas iriam ter contato com o álcool e desenvolver a dependência. Eu sempre digo que meus filhos mudaram minha forma de enxergar a vida. Entendi que compartilhar minha experiência podia ser útil e escrevi o primeiro livro.

A partir dali comecei a ser chamado para dar palestras em escolas e a receptividade dos adolescentes foi incrível. Acho que porque ali eu estava de peito aberto, sem ter o objetivo de dar uma lição de moral ou pregar uma ­religiosidade.

Diário do Litoral: Foi a partir daí que surgiu a ONG Movimento Vale a Pena e o aplicativo para ajudar quem precisa de ajuda?  

Paulo Leme: Exatamente. Após as palestras era muito comum as pessoas me perguntarem de locais que oferecessem suporte para os dependentes e familiares que enfrentavam esse problema e era difícil ter esses endereços de prontidão. O aplicativo – gratuito e disponível para download nas plataformas android ou IOS – veio para suprir essa lacuna. Conectar os grupos que trabalham com essa temática com quem precisa de ajuda. Muitas vezes esses grupos funcionam em salas pequenas ou nos fundos de igrejas e não são tão divulgados. Muitos trabalham ainda com os familiares dessas pessoas, que sofrem e por vergonha não têm com quem conversar.

Diário do Litoral: Que mensagem você deixaria para quem enfrenta esse problema?

Paulo Leme: A dependência é dramática e quando estamos no olho do furacão não temos noção da realidade e nem perspectiva de saída. É preciso lembrar que muitas pessoas enfrentam esse problema, que ele é tratável e é possível superar. Precisamos falar abertamente disso, pois quanto mais admitimos que esse problema existe, mais trabalhamos para que ele se resolva.

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