Cotidiano
Corredores escuros dão aspecto fúnebre ao espaço; com membros necrosados, pacientes aguardam nos leitos de baixa complexidade por vagas para cirurgias vasculares em hospitais do Estado
De acordo com a familiar de um dos pacientes internados, os leitos são compartilhados entre pessoas com os mais diversos problemas de saúde e graus de complexidade / Paolo Perillo/DL
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Um hospital fantasma. Essa é a forma mais correta para definir a situação do antigo PS Central de Santos. Deixando de atender pacientes de urgência e emergência após a inauguração da UPA da rua Joaquim Távora, o espaço parcialmente desativado continua tendo os 39 leitos de internação e os 10 de Terapia Intensiva utilizados por pacientes que aguardam transferência ou cirurgias emergenciais.
No entanto, a situação do local é dramática. De acordo com a familiar de um dos pacientes internados no espaço, os leitos são compartilhados entre pessoas com os mais diversos problemas de saúde e graus de complexidade.
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“Levei meu pai para a UPA para tratar um problema vascular simples. De lá ele foi encaminhado para repouso no antigo PS Central e a situação só piorou. Hoje ele já não consegue andar. Há pelo menos outros quatro pacientes na mesma situação. Os ferimentos têm um odor muito forte e nosso receio é que eles tenham uma infecção por não estarem sendo tratados em um ambiente próprio para isso. Só no último mês testemunhamos sete óbitos”, conta.
De acordo com a denunciante, todos os pacientes que estão hoje no local foram encaminhados devido à superlotação da UPA Central. “Um plantonista passa pela manhã e quando os pacientes reclamam de dor receita tramal (medicamento usado como analgésico de ação central que alivia a dor). Estamos indignados com o descaso”, conta.
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Ela conta ainda que outros pacientes que chegaram depois dos que estão internados atualmente já conseguiram vaga para a cirurgia. “Queremos entender o que está acontecendo. Os pacientes estão com membros necrosados e não estão em um hospital com Centro Cirúrgico adequado para atender as necessidades deles”, afirma. A reportagem do Diário recebeu imagens da situação crítica dos pacientes, mas por questões éticas não irá reproduzi-las.
Abandono
Logo na entrada, uma estrutura de madeira substitui uma porta de vidro quebrada. A maior parte dos corredores está com as luzes apagadas. Macas se acumulam em uma área e a antiga sala onde funcionava a odontologia também se transformou em depósito de materiais inutilizados.
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A reportagem não encontrou dificuldades para acessar todos os espaços do PS Central. Durante o trajeto, encontramos apenas seis funcionários. Ainda no térreo, a sala de observação tinha dez pacientes internados. A porta da emergência estava parcialmente aberta, revelando alguns pacientes mais críticos no ambiente.
No primeiro andar, uma funcionária mexia em uma papelada na recepção. No espaço estão internadas, em leitos de baixa complexidade, as cinco pessoas que necessitam de cirurgia vascular com urgência – especialidade médica que requer leitos de alta complexidade para tratamento.
Abertura do Complexo dos Estivadores não solucionará questão
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Os leitos de internação e de UTI que hoje funcionam no antigo PS Central deverão ser substituídos após a inauguração do Complexo Hospital Estivadores. No entanto, os problemas no trato de pacientes de alta complexidade - como os casos que necessitam de cirurgia vascular – não serão solucionados com a abertura completa do equipamento. Isso por que o Estivadores terá vocação apenas para atender casos de média complexidade.
“É preciso uma solução regional para questões de cirurgia vascular. Temos uma central de regulação de vagas municipal e uma estadual. A interlocução é constante e buscamos uma solução para esses pacientes que hoje aguardam pela cirurgia no antigo PS Central enquanto não viabilizamos um melhor leito hospitalar. É importante salientar que todos estão sendo medicados, tratados e acompanhados pela equipe médica”, afirma o chefe do Departamento de Atenção Pré Hospitalar e Hospitalar, Marco Sergio Neves Duarte.
Marco diz que o antigo PS é considerado hoje como um Hospital de Pequeno Porte e serve para desafogar as portas de emergência do município. “A taxa de ocupação do espaço gira em torno de 85%. Hoje temos 36 dos 39 leitos de internação ocupados e seis dos 10 de Terapia Intensiva também”, pontua.
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Embora afirme que o espaço é uma unidade de portas fechadas (exceto no período da tarde e noite, durante os horários de visitas aos pacientes) e mais de 30 médicos e 200 funcionários atuem hoje no antigo PS, o Chefe do Departamento de Atenção Pré Hospitalar e Hospitalar não soube dizer por qual motivo as portas estavam abertas e o ambiente parcialmente abandonado na manhã desta terça-feira. “Vamos apurar o que aconteceu”, diz.
Em nota a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo afirma que a Central de Regulação de Vagas da Baixada Santista recebeu os pedidos dos pacientes internados e deu início ao processo de regulação de vaga para cada caso.
Destaca ainda que apenas a disponibilidade de vagas não é suficiente para realizar a transferência de pacientes. “É necessário que haja condições clínicas adequadas, com quadro estável e livre de infecções, por exemplo”, finaliza a nota oficial.
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