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Agricultura familiar em Guarujá. / Rodrigo Montaldi

Mesmo com a grande quantidade de áreas disponíveis para o plantio na Baixada Santista e Vale do Ribeira, a agricultura familiar não tem expectativa de crescimento. Pelo menos é o que acredita Kátia Sasahara, presidente da Associação dos Agricultores Familiares do Guarujá (AAFAG) e dona de um pequeno sítio no Perequê onde produz, ao lado do marido, palmito pupunha orgânico e inhame.

Os motivos para a descrença são muitos. “Nós moramos numa região que chove muito, o que não é bom para a agricultura porque a umidade facilita a propagação de fungos. Além disso, não temos mão de obra, falta planejamento por parte de alguns produtores na hora de escolher o que plantar e pouco incentivo do governo”, pontua. 

Por mais que exista espaço para a atividade, principalmente no Litoral Sul, Kátia explica que a parte financeira é o que mais influencia na hora de pensar em investir em agricultura. 

“É uma atividade demorada. O palmito, por exemplo, leva de dois a três anos até estar pronto para a colheita. Então se você não se planejar economicamente para o período inicial da atividade, não conseguirá se manter”, detalha. Por ano, a produção do casal chega a três toneladas. 

Kátia acredita que tantas dificuldades acabam afastando novos interessados no ramo, mesmo que a demanda por uma alimentação mais saudável tenha crescido, bem como a valorização, por parte dos consumidores, dos pequenos produtores através dos benefícios da compra direta.  

Como se manter. 

Para se manter no mercado é preciso, além de qualidade, variedade de alimentos. Por isso, Kátia e o marido, Sidney Sasahara, uniram, por meio da AAFAG, mais 12 sitiantes instalados no Perequê. Juntos eles produzem chuchu, maracujá, banana, entre outros, e fornecem para a Feira Popular de Itanhaém e Feira de Economia Solidária do Produtor Local de Guarujá. Os alimentos oferecidos na merenda escolar da cidade também vêm direto da plantação dos pequenos agricultores. 

Outra forma de conservar a receita é fornecer para restaurantes locais. A troca é vantajosa para os dois lados, já que os comerciantes tem o produto na mão em menos tempo devido à distância do fornecedor e, consequentemente, os alimentos chegam mais frescos. Os preços também são menores, pois não existe a presença do atravessador. 

Na greve dos caminhoneiros, por exemplo, os restaurantes que abasteciam seus estoques com fornecedores locais não sentiram tanto os prejuízos, já que na agricultura familiar a entrega também faz parte da prestação de serviço. 

“A venda direta vale muito a pena pelo frescor dos alimentos e pelo preço que chega a ser 10% mais baixo neste tipo de negociação”, explica Kátia. 

A rotina

Às quatro horas da manhã o casal já está de pé para dar conta da demanda diária que inclui a colheita do palmito, o corte de acordo com o pedido do cliente, as entregas e encomendas. 

Todas as etapas do trabalho são realizadas apenas pelos dois, já que não existe verba para a contratação de mais funcionários nem interessados em trabalhar no ramo, segundo eles. 

“Hoje em dia ninguém quer trabalhar debaixo de sol ou de chuva. Eu, desde criança, fui criada nesse meio porque meus pais cuidam de um sítio em Itanhaém e escolhi me manter na área, mas a maioria dos filhos do campo, quando crescem, querem ir embora e trabalhar em empregos oferecidos na cidade”, diz Kátia. 

O casal Sasahara tem um filho de três anos que estava na creche durante o período da Reportagem, mas pelo que contaram os pais, o menino já corre pela plantação com jeito de quem gosta da vida no campo, morando na praia. 

Em relação aos lucros, Kátia brinca. “Olha, não dá para ficar rico, mas dá para viver”. 

Orgânico x Convencional

Quanto à demanda dos consumidores por produtos orgânicos ao invés dos convencionais, Kátia explica que para o pequeno produtor, essa transição é difícil. 

Os agricultores da AAFAG chegaram a fazer o Curso de Agricultura de Produção Orgânica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), com duração de noves meses. Ele ensina técnicas de manejo da terra a partir de esterco e outras adubações sem químicos. 

O problema é que durante o período de transição de uma técnica para a outra, a produção cai e prejudica o agricultor familiar. Além disso, os insumos são caros. 

“Sempre falo que é preciso equilíbrio quando se fala em produtos orgânicos, até porque um produto cultivado de forma convencional na agricultura familiar não recebe grandes quantidades de agrotóxicos. Este problema afeta as plantações dos grandes produtores, donos de grandes propriedades. Não dá para comparar com o que vem de pequenos sítios”, analisa. 

Baixada Santista

Em toda a região, as duas cidades que contam com o maior número de agricultores é Itanhaém e Peruíbe, ambas com 200 pessoas participando da atividade. Mongaguá conta com 43 propriedades. 
Já Cubatão, Praia Grande, Santos, São Vicente e Bertioga não registram atividades agrícolas. 

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